segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Dia Mundial das Missões

Dom Eugenio de Araujo Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

Para o cristão, católico ou não, é óbvio ter Cristo fundado a Igreja (Mt 16,17-19). Ele delineou Sua obra pondo-a sob a direção do Espírito Santo, que a guia através dos séculos e preserva sua estrutura essencial, atendendo às necessidades dos tempos. Como Ele foi morto sendo inocente, a incompreensão e o sofrimento seriam, através dos séculos, uma característica da Igreja. Chega mesmo a dizer que haverá tempo em que persegui-la pode, a alguns, assemelhar-se a uma boa obra: "E virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus" (Jo 16,2). Há no alicerce dessa obra divina um aspecto que a diferencia das instituições terrenas: a indestrutibilidade.

Jesus Cristo marcou sua obra com o dever de sempre expandi-la, propondo uma doutrina sem forçar a recebê-la. Isto constitui o espírito missionário, elemento integrante da Igreja Católica.

Assim, a preocupação em apresentar o ensino do Mestre, a disciplina que Ele veio ensinar, são deveres de cada batizado e não apenas dos ministros ordenados. Trata-se de uma obrigação de consciência cristã, que independe da aceitação ou não por parte dos homens. A exigência de Cristo vai além. Nesses dois milênios, o cumprimento desse compromisso tem custado a vida a muitos milhares de fiéis. Mais comum não é o derramamento de sangue, mas o ataque à Igreja de Deus, de várias outras formas. O mundo respira uma atmosfera de prazer, da busca do conforto, dos bens transitórios, dos valores terrenos. O Salvador caminha em outra direção. O desencontro é inevitável! Sempre têm sucedido ataques e incompreensões, no decorrer dos séculos. Ora nascem da ignorância, outras vezes em boa-fé e também por deficiências humanas dos fiéis. É fundamental haver coragem, principalmente nos pastores, de ensinar, em toda a sua integridade, a Palavra de Cristo, que nos é transmitida pela Igreja. A verdade não depende do número, da quantidade de votos. Sempre é útil e mesmo necessário recordar: “Devemos agradar antes a Deus que aos homens” (At 5,29).

A importância dada à divulgação do Evangelho pela Igreja se evidencia também pela celebração do Dia Missionário Mundial. Este ano ocorre a 24 de outubro, quarto domingo do mês. Sempre há uma acurada preparação. A Igreja, nesta oportunidade, lembra aos fiéis o grave dever de ajudar os missionários que, espalhados por todos os países, pregam o Evangelho de Jesus.

Os que usufruem da graça da Fé vivida, da fidelidade à Igreja, mesmo com sacrifício, retribuem com o exemplo de vida e orações, atendem às necessidades dos que batalham na linha de frente, levando o nome de Jesus aonde é desconhecido. Esse trabalho é indispensável também em ambientes já anteriormente evangelizados. Infelizmente, são muitos os que se proclamam discípulos, mas aceitam ou praticam apenas o que, subjetivamente, decidem fazer. Isto não é e nem jamais foi, ser católico.

Ajuda-nos muito nesse sentido a Mensagem habitual do Papa para a data, que este ano leva o título “A construção da comunhão eclesial é a chave da missão”. Para o Santo Padre o Dia Missionário Mundial é “a ocasião para renovar o compromisso de anunciar o Evangelho e dar às atividades pastorais um ímpeto missionário mais amplo (...). Jesus Cristo nos convoca à mesa da sua Palavra e da Eucaristia para formar-nos na sua escola e viver cada vez mais unidos a Ele, Mestre e Senhor. Só a partir deste encontro com o Amor de Deus, que muda a existência, podemos viver em comunhão com Ele e entre nós, e oferecer aos irmãos um testemunho credível”.

A celebração missionária deve fortalecer em cada fiel a certeza da pujança da ação do Espírito Santo em nossos dias, como na época primitiva. Fizeram-no sem armas, mas munidos da força que vem de Deus. Nela não acreditam os homens, mas nós, instrumentos do Senhor, tudo podemos. O Dia das Missões é um momento de otimismo em relação ao nascimento de Deus na alma das suas criaturas.

Sem dúvida, “o “Queremos ver Jesus” (Jo 12,21) ressoa também no nosso coração neste mês de Outubro, que nos recorda como o compromisso do anúncio evangélico compete a toda a Igreja (...), convidando-nos a tornarmo-nos promotores da novidade de vida”.

Continua o Papa em sua Mensagem: “Estas considerações remetem para o mandamento missionário que todos os batizados e a Igreja inteira receberam e alimenta-se numa busca constante de promover a comunhão eclesial. A comunhão desejada nasce do encontro com o Filho de Deus, Jesus Cristo. Assim, aos que crêem, dá-lhes a certeza de que abrir o caminho do amor a todos os homens e instaurar a fraternidade universal não são coisas vãs" (‘Gaudium et spes’, 38).

O anúncio do nome e da glória de Deus é um impulso que permanece, ora mais vivo, ora arrefecido pelo pecado dos cristãos. No entanto, sempre permanente e atuante, para levar aos confins da terra e ao íntimo dos corações a Mensagem salvífica.

No Dia Missionário Mundial meditemos nas palavras do Papa, em sua Mensagem: “Como o ‘sim’ de Maria, cada resposta generosa da Comunidade eclesial ao convite divino ao amor dos irmãos suscitará uma nova maternidade apostólica e eclesial (...). Esta resposta tornará todos os crentes capazes de ser ‘jubilosos na esperança’(Rm 12,12) ao realizar o projeto de Deus”.

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