quinta-feira, 22 de março de 2012

'Era uma carta de suicídio', diz garoto agredido por ser homossexual no RS

Adolescente de 15 anos participou do programa Mais Você nesta quinta.  
Ele foi agredido a socos e pontapés por um colega em Santo Ângelo.
Do G1 RS

Estudante de 15 anos agredido por ser homossexual em Santo Ângelo vai ao programa Mais Você (Foto: Reprodução/RBS TV)                                O estudante de 15 anos que foi alvo de agressão, preconceito e bullying em uma escola pública de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, foi ao programa Mais Vocêna manhã desta quinta-feira (22) relatar o episódio. A imagem do adolescente foi preservada. Protegido atrás de um biombo, o garoto revela que o pedido de socorro enviado à Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) era inicialmente uma carta de suicídio.
“Quando eu comecei a escrever, era uma carta de suicídio. Eu não aguentava mais aquilo. Só depois percebi que podia pedir ajuda para outras pessoas. Foi então que eu mandei para a associação. Ainda tenho medo de sair na rua e sofrer retaliação”, diz o estudante. Ele já trocou de escola, mas o receio de preconceito permanece. “Fui para um colégio particular. Não sei como as pessoas vão reagir porque quase ninguém sabe que sou gay.”
Meus pais me deram muito apoio. São pessoas inteligentes, não têm preconceito. Eles têm uma mente aberta e toleram as diferenças"
Jovem agredido
O estudante também fez duras críticas ao descaso dos professores e da Escola Estadual Onófre Pires. De acordo com o jovem, a escola sabia dos problemas. "Pedi ajuda diversas vezes para os professores e eles me ignoravam. Falavam que a escola era uma democracia." Procurada pela G1, a escola disse que não iria se manifestar sobre a agressão.
Apesar de ter sido agredido a socos e pontapés por um colega de turma do lado de fora do colégio, o menino destaca o apoio dos pais em casa. “Meus pais me deram muito apoio. São pessoas inteligentes, não têm preconceito. Eles têm uma mente aberta e toleram as diferenças das pessoas.” Este suporte familiar foi fundamental no processo, segundo o psiquiatra infantil Gustavo Teixeira, convidado do programa. “A família tem uma função importantíssima nesses casos. Precisam apoiar para superar o trauma. Sozinho ele não conseguria”, ressalta.
Prédio da Escola Estadual Onofre Pires, em Santo Ângelo (Foto: Divulgação/Escola Estadual Onofre Pires)Fachada do colégio onde o garoto estudava no RS
(Foto: Divulgação/Escola Estadual Onofre Pires)
“Um em cada três estudantes estão envolvidos com bullying no Brasil, seja como autor ou como vítima. Trata-se de uma violência continuada. Provoca casos de depressão e até suicídio se não detectados em tempo pela família. É preciso sempre estar atento às notas da criança na escola e ao relacionamento com os amigos”, explica Teixeira, autor de um livro chamado Manual Antibullying. “Ninguém está imune a isso, todos podem sofrer como eu sofri. Isso tem que acabar”, apela o adolescente.
A Polícia Civil de Santo Ângelo e a Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul começaram a ouvir na quarta-feira (21) os envolvidos no episódio. O coordenador estadual do Comitê de Combate à Violência nas Escolas da secretaria se reuniu com professores e diretores da escola para ouvir os envolvidos. Ele também passou orientações de como proceder em caso de violência e como detectar futuros casos. “O professor é um educador, ele não pode se omitir apenas encaminhando o problema para a direção”, argumentou Alejandro Jelves. A polícia acredita que o caso esteja resolvido em até 30 dias.

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